Durante debate sobre juros, inflação e crescimento no plenário do Senado, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada. Em sua apresentação, o dirigente resumiu boa parte do que foi exposto na terça-feira (25) durante o questionamento a que foi submetido na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da casa.
Campos Neto defendeu o sistema de metas da inflação. “O sistema funcionou bem no Brasil e em todos os países em que foi adotado. Na maior parte do tempo, o sistema passou dentro da banda. Foram apenas sete estouros em 24 anos, dentro do que ocorreu em outros países”, disse, ressaltando que a meta de inflação de 3% ao ano para 2024 foi determinada pelo governo, através do Conselho Monetário Nacional (CMN), e que o Banco Central apenas é responsável pela operacionalização. Ele lembrou da situação da Argentina e da Turquia, países que resolveram se distanciar do sistema, com resultados ruins.
O presidente afirmou que a autonomia do BC é praticamente um consenso e que contribui para o controle da inflação. Ao afirmar que a inflação no Brasil está abaixo da média dos países emergentes e desenvolvidos, lembrou que alguns núcleos inflacionários ainda estão altos, mesmo com a desaceleração anotada pelo IPCA-15. Segundo ele, a contração do crédito no Brasil é menor do que no resto do mundo e alertou que a previsão de inflação pelo mercado piora há 15 semanas.
“A inflação no Brasil não é de oferta e precisa do trabalho que tem sido feito pelo BC”, frisou, repetindo que a inflação é um imposto perverso e que atinge principalmente os mais pobres. Campos Neto repetiu que o BC sempre suaviza os ciclos o máximo possível para garantir o crescimento econômico. Citou que o PIB retornou os níveis pré pandemia e que há números positivos de emprego e renda. “Mas é claro que queremos crescer muito mais”, ressalvou.
Campos Neto disse que o juro real no Brasil está abaixo da média de anos passados e citou o fato do grande volume de crédito direcionado do país atrapalhar o trabalho da instituição em conter a inflação. Apesar de ter citado o juro real menor que em anos anteriores, o presidente do BC deixou claro que não está defendendo os atuais níveis dos juros, considerado alto por ele.
O presidente do BC afirmou que a credibilidade é que garante a queda dos juros mais longos e que esse processo nem sempre ocorre de forma automática com o corte da Selic. Destacou a preocupação da entidade com a agenda social e com a inclusão e a educação financeira. “A prioridade técnica, às vezes, difere do cenário político”, concluiu.
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