A varejista chinesa Shein, conhecida pela presença on-line e roupas de baixo custo, anunciou na última quinta-feira (20) sua vinda para o Brasil. A empresa noticiou, nesta segunda-feira (24), um acordo com a Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas), prevendo o investimento chinês de R$ 750 milhões e a criação de 100 mil empregos no Brasil até o final de 2026.
O anúncio fez a ação da Coteminas (CTMN4) disparar. O papel custava menos de R$ 2 desde o início de fevereiro, mas, em dois dias, saltou mais de 300%. A empresa controla também a Springs Global e Companhia de Tecidos Santanense, ambas com ações na Bolsa (CTSA3 e SGPS3), que também mais do que dobraram de preço com o anúncio do acordo.
A rápida escolha da parceira brasileira, sem que se tivesse notícia de uma concorrência aberta a outras indústrias no país, colocou uma pulga atrás da orelha de outros players do setor.
A Coteminas pertence a Josué Gomes, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e filho de José Alencar (morto em 2010), que foi vice-presidente de Lula nos seus dois primeiros mandatos como presidente.
Tamanha é a proximidade de Gomes com o governo petista que ele chegou a ser convidado a ser ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior neste mandato, mas declinou.
O presidente da Coteminas e da Fiesp estava, inclusive, na lista de empresários que acompanharam Lula e sua comitiva na viagem à China.
Políticos adversários do PT acusam o partido de estar “pagando” pelo apoio da Fiesp nas eleições, ao triangular o acordo com a Shein e a Coteminas.
O senador Ciro Nogueira (PP) foi um dos que atacou: “Na campanha, o presidente da FIESP sobe no palanque a favor de Lula. Faz manifesto pela ‘democracia’, como se fosse independente. Eleito, Lula o convida para ser ministro. Recusa, mas agora ganha sua recompensa.”
Uma análise simplificada da saúde financeira da Coteminas (CTMN3) e de alguns de seus concorrentes, como Dohler (DOHL4), Têxtil Renauxview (TXRX4); Teka Tecelagem (TEKA4), mostra que a opção da Shein pela primeira não parece algo tão simples.
A Coteminas fica em último lugar em relação aos pares citados acima quando é considerado sua pontuação no ranking de melhores empresas feito pelo site Investidor10, que considera itens como a empresa estar na Bolsa há mais de 5 anos; possuir um bom ROE (retorno sobre patrimônio); ter lucros crescentes; boa liquidez; não ter dívidas maiores que o próprio patrimônio; e nunca ter dado prejuízo.
Veja abaixo uma análise simplificada feita pelo Monitor do Mercado, usando indicadores financeiros como ROE, ROA (retorno sobre ativos); Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização; e CAGR (taxa de crescimento anual):
Finanças da Coteminas (Pontuação: 20/100)
A Coteminas apresenta uma margem líquida negativa, o que indica dificuldades em gerar lucro com as operações, e uma dívida líquida elevada em relação ao EBITDA. Outro ponto preocupante é a queda nas receitas nos últimos cinco anos, indicando um ambiente competitivo difícil para a empresa.
No entanto, há alguns pontos positivos que devem ser considerados. A margem bruta e a margem EBITDA apresentaram um aumento significativo em relação a 2020, o que indica que a empresa está conseguindo controlar seus custos de produção e operacionais. Além disso, a Coteminas apresenta um patrimônio líquido considerável em relação aos ativos totais, o que é um indicativo de solidez financeira. No entanto, a empresa precisará enfrentar desafios significativos para reverter sua atual situação financeira e se tornar uma empresa mais rentável e eficiente.
Finanças da Dohler (Pontuação: 60/100)
No geral, a Dohler parece estar em uma posição financeira sólida, com baixo endividamento e boa liquidez. No entanto, a rentabilidade é variável e pode ser uma área de preocupação.
Em termos de liquidez, a Dohler parece estar em boa forma, com uma relação de liquidez corrente superior a 6 em todos os anos. Além disso, a empresa tem um baixo nível de dívida em relação ao patrimônio líquido e aos ativos totais, o que sugere que sua posição financeira é sólida.
No entanto, a rentabilidade da empresa é variável. Enquanto a margem líquida é baixa, variando de 0,55% a 16,10%, a margem bruta é mais saudável, variando de 21,15% a 29,08%. A margem EBITDA também é razoável, variando de 3,76% a 16,11%. O ROE e o ROA também variam bastante, sugerindo que a empresa não é consistentemente lucrativa. O CAGR dos lucros nos últimos 5 anos também é variável, variando de -36,65% a 37,97%.
Finanças da Teka (Pontuação 40/100)
Em recuperação judicial, a saúde financeira da Teka não é favorável. A margem líquida tem se mantido em patamares negativos desde 2020, indicando que a empresa está com dificuldades para gerar lucro. A margem EBIT e EBITDA também apresentam resultados negativos, sugerindo que a empresa tem tido problemas para cobrir seus custos operacionais. Além disso, o ROE, ROIC e ROA estão em níveis insatisfatórios, indicando que a empresa não está gerando um bom retorno para seus acionistas e investidores.
Por outro lado, a margem bruta se mantém relativamente estável em torno de 17%, o que indica que a empresa ainda tem conseguido manter um bom nível de rentabilidade em suas vendas. O CAGR das receitas nos últimos 5 anos também apresenta um resultado positivo, embora com uma desaceleração nos últimos dois anos. No entanto, a dívida líquida em relação ao EBITDA e EBIT estão em patamares muito elevados, sugerindo que a empresa tem uma grande dívida a ser paga e que pode estar com dificuldades financeiras para honrar seus compromissos.
Finanças da Têxtil Renauxview (Pontuação: 30/100)
A Têxtil Renauxview apresenta indicadores financeiros preocupantes em 2022, como uma margem líquida baixa de 0,53% e um ROE negativo de -0,34%. Além disso, a empresa apresenta uma relação Dívida Líquida/EBIT elevada, de 9,66, o que pode indicar dificuldades em honrar seus compromissos financeiros. Outros indicadores, como a margem bruta e a margem EBIT, apresentam números razoáveis em 2022, mas tiveram queda nos anos anteriores, o que pode indicar uma instabilidade financeira da empresa ao longo do tempo.
Por outro lado, a Têxtil Renauxview apresenta alguns indicadores positivos, como um giro de ativos crescente e um patrimônio líquido que se manteve relativamente estável nos últimos anos. Entretanto, é importante ressaltar que o patrimônio líquido da empresa é negativo, o que pode indicar uma insolvência em caso de falência. Além disso, a liquidez corrente da empresa está abaixo de 1, o que pode indicar dificuldades em honrar seus compromissos de curto prazo.
Em resumo, a empresa apresenta indicadores financeiros preocupantes em 2022, o que pode indicar uma situação financeira delicada.
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