Em dia de forte aversão ao risco, a Bolsa fechou em queda de 2,11% e voltou ao patamar dos 103 mil pontos, com os investidores expressando dúvidas em relação à nova âncora fiscal, apresentada na véspera ao Congresso. Os agentes financeiros ficam com as atenções voltam para à tramitação do projeto. Somado a isso, o peso das commodities também contribuiu para a queda do índice.
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As ações da Vale (VALE3) caíram 2,91% e as empresas ligadas ao minério de ferro também registraram baixa acompanhando a queda da commodity no exterior. O relatório de produção e de venda da Vale (VALE3) abaixo do esperado também refletiu nas ações da mineradora.
A companhia produziu 66,8 milhões de toneladas de minério de ferro no 1T23, 5,8% acima do 1T22. A venda de minério de ferro caiu 10,6% no 1T23 e somou 45,8 milhões de toneladas.
Segundo Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, “tem se comentado no mercado que a China não vai crescer da maneira que se esperava antes, não devemos esperar um crescimento ligado à construção civil como tivermos nos últimos anos, mas sim ligados a outros setores”.
Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 3,19% e 3,21% seguindo a queda do petróleo no mercado internacional.
As ações ligadas ao varejo como Magazine Luiza (MGLU3) e Lojas Renner (LREN3) tiveram mais uma sessão em queda de 8,19% e 5,48% ainda refletindo a isenção para compras internacionais entre pessoas físicas de até US$ 50 e a alta na curva de juros.
O principal índice da B3 caiu 2,11%, aos 103.912,94 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 1,95%, aos 105.740 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, disse que “apesar de não trazer mudanças muito significativas quando comprada à proposta inicial, a peça legislativa de regra fiscal ainda segue com lacuna e preocupações que alimentam incertezas entre os investidores, impulsionadas também por preocupações acerca da tramitação da peça no Congresso”.
André Luzbel, head de renda variável da SVN, disse que a queda da Bolsa está relacionada com a regra fiscal e a Petrobras. “O arcabouço veio vago e a Petrobras voltou a puxar pra baixo; não sabemos o que vai acontecer, não há previsibilidade de nada; estamos voltando ao patamar antes da forte alta [da semana passada]”.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que o arcabouço fiscal é “o principal fator da queda da Bolsa e agora o mercado vai ficar atento à tramitação no Congresso [do texto]; o primeiro passo vai ser a definição do relator e, depois, o mercado vai verificar que tipo de modificações devem ocorrer; commodities também pesam”.
Felipe Moura, sócio e gestor da Finacap, disse que o cenário doméstico pesa na Bolsa na sessão de hoje com os investidores reagindo ao arcabouço fiscal. “Não vi muito mudança, mas teve uma série de classificação que ficou fora do limite de gastos, que vejo como negativo, mas o projeto deve avançar na Câmara do jeito que está; além disso a derrota de Haddad [ministro da Fazenda, Fernado Haddad] sobre a taxação dos US$50 [manteve a isenção de compras internacionais entre pessoas físicas] também pesou; as commodities e inflação ao consumidor na zona do euro -subiu 6,9% em março em base anual- e Reino Unido -avançou 10,1% em março em base anual- também ajudam para o movimento negativo
Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse o dia deve ser negativo com repercussão sobre o arcabouço e o exterior pesando também. “A impressão que tive foi de que o texto não mudou muito, mas ficou mais reforçado, que está mais preocupado com o lado das receitas do que de cortar gastos. É o grande problema do arcabouço. Precisamos entender até que medida o governo vai ter força para aumentar a tributação, voltar a tributar alguns setores que têm benefícios fiscais, isso porque o Lira [presidente da Câmara] se colocou claramente contrário a matérias que possam aumentar arrecadação e o movimento de recuo de taxação da Shopee mostra que o governo vai enfrentar resistência até mesmo pela sociedade civil. O texto parece que não vai ser tão modificado com Lira dizendo que vai ser aprovado até 10 de maio, pode ter tramitação mais rápida; mas o texto não agrada, é melhor ter alguma coisa doque nenhuma regra fiscal. O exterior também contamina com a inflação ruim na Europa e Reino Unido; falas de políticos sobre o arcabouço também podem fazer preço por aqui”.
Soraia Budaibes / Agência CMA
Imagem: unsplash.com
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