O acordo assinado entre a China e o Brasil que permite transações diretas usando as moedas dos dois países não significa o fim da economia dolarizada. Nem que vendedores chineses vão receber em real ou brasileiros receberão em yuan (ou renmimbi).
O novo pacto é diferente do assinado em 2013, feito para casos de crise da balança de pagamentos — e nunca utilizado.
Agora, o benefício é muito mais direto, como explica Fernando Canutto, advogado especializado em Direito Societário e Direito Empresarial e sócio do Godke Advogados.
Quem quiser fazer contratos com a China não precisará passar pelo sistema Swift. Ou seja: transações que antes eram feitas pela troca do real para dólar e depois para yuan, serão diretamente real-yuan.
Para Canutto, a “a tendência é de que os contratos sejam mais simples” e as transações possam ocorrer em qualquer hora do dia ou da noite.
Em conversa com o Monitor do Mercado, Laerte Apolinário Júnior, doutor em Ciência Política pela USP e professor de Relações Internacionais da PUC-SP, explica que esse novo contrato tem impactos mais aparentes e deve estimular o comércio entre o Brasil e a China.
“Ele parece ter impactos mais aparentes na medida em que, a partir do momento que ele entrar em funcionamento, há um sentido para que os países, intensifiquem as relações comerciais”.
Desde 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil. Apenas em 2022, os países movimentaram US$ 5,94 trilhões, valor maior do que o PIB do Japão.
O novo contrato estimula esse comércio, mas não bane o dólar da equação. Hoje, apenas o Bank of Communications BBM (Bocom BBM) poderá realizar essa operação direta, aliás.
Canutto afirma que a perspectiva é de que outros grandes bancos brasileiros corram atrás dessa autorização, mas os importadores e exportadores que quiserem continuar usando a moeda americana poderão continuar operando desta forma.
Para Laerte, essa é uma movimentação da China para reduzir sua dependência do dólar e aumentar a importância de sua moeda no globo, principalmente nos últimos 10 anos.
A Guerra da Ucrânia também foi uma importante alavanca para o processo.
“As sanções que foram aplicadas por parte dos Estados Unidos, em direção a Rússia, têm levado, em alguma medida, a China a acelerar as suas medidas de redução da dependência em relação ao dólar”, disse o professor.
Como fica o Brasil?
Mas as tentativas da China em reduzir sua dependência não significa que o mundo vai sair do padrão dólar. Nos dias de hoje, cerca de 60% das reservas internacionais são lastreadas na moeda, aqui no Brasil esse número chega a 75%.
No curto prazo, é muito difícil que o renminbi chinês consiga essa relevância, devido tanta a proeminência do dólar no sistema, quanto aos controles da China.
De acordo com a avaliação de Laerte, o contrato real-renmibi é uma continuação da aproximação entre o Brasil e China, mas isso está longe de significar um afastamento da moeda americana e do próprio Estados Unidos.









