O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje, em evento realizado pelo Bradesco BBI, que não existe relação mecânica entre fiscal e taxas de juros. “O importante para a gente é atuar dentro do sistema de metas. O mais importante é saber como as medidas que estão sendo anunciadas afetam o canal de expectativa”.
Campos Neto disse que a instituição se preocupa com o fiscal porque há um sistema ancorado em três pilares: câmbio flutuante, âncora monetária e um sistema de metas.
O presidente do BC destacou o esforço do governo para anunciar o arcabouço fiscal “Um outro ponto importante é reconhecer o grande esforço que o ministro Haddad tem feito, que o governo tem feito. Eu acho que o que foi anunciado até agora elimina um risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva”.
Campos Neto nota uma certa ansiedade sobre a parte das receitas, “que a gente precisa observar como vai tramitar no Congresso”. Segundo ele, tem uma ansiedade também sobre a despesa obrigatória.
“Acho injusto isso, Teria que ser cobrado com certa parcimônia, porque é difícil cortar despesa obrigatória, principalmente quando se pensa em cortes estruturais”. Campos Neto foi taxativo sobre a questão do novo arcabouço: “nossa avaliação é super positiva. Reconhecemos o esforço. Importante dizer para aqueles que tinham esse risco precificado sobre dívida uma desordenada, que isso foi eliminado”.
Em relação ao crédito, Campos Neto disse que esse é um assunto que está bastante vivo em fóruns dos bancos centrais. Ele destacou o princípio da separação adotado pelo BC brasileiro ao tratar do crédito e da política monetária.
“Câmbio flutuante e juros são para política monetária e medidas macroprudenciais são para estabilidade financeira. Em alguns lugares, uma coisa se interage com a outra. Se a crise de estabilidade financeira for muito grande ela acaba entrando no campo de atuação da política monetária”, ressalvou, destacando que na maior parte dos países os BCs estão tentando fazer essa separação. Para ele, no caso do Brasil é ainda mais fácil por uma série de motivos.
“Tivemos três anos seguidos de forte crescimento na concessão de crédito. No ano da pandemia, o crédito cresceu n22%. Viemos de um crescimento de crédito bastante alto. Agora estamos falando de um crescimento de 7,5% a 8%, que é mais ou menos compatível com o resto do mundo emergente”, disse.
Metas de inflação
“Em primeiro lugar, precisamos dizer que o sistema de metas é importante, mas esse é assunto que gera muita discussão e poderíamos falar só sobre esse tema por mais de uma hora. Poucos países hoje não usam o sistema ou algo parecido com o que é utilizado no Brasil”, afirmou.
Em segundo lugar, aponta o presidente do BC, tem uma divisão entre os economistas sobre o tema da meta. “Alguns economistas dizem que a meta foi estabelecida em 3% em um momento que a inflação global era muito baixa, estava se entrando no período de pandemia que se imaginava desinflacionário. E a gente tem uma realidade diferente agora e que parece que será mais duradoura porque a reorganização de cadeias no pós pandemia e que está acontecendo durante a guerra vai fazer com que a adaptabilidade da oferta seja menor’.
Do outro lado, há economistas que dizem se mudar a meta em um ambiente em que ela não está sendo cumprida muito provavelmente não se ganha grau de liberdade. “As pessoas não vão só se adaptar à nova meta como colocarão um prêmio em cima disso. A diferença entra as duas visões é entre o canal de expectativas”.
Segundo Campos Neto, mesmo aumentando a meta, não há garantia de que não haverá um custo estrutural de longo prazo. “São várias variáveis. A meta quem determina é o governo e não o Banco Central. A minha posição é que a gente não ganha grau de liberdade. O que podemos fazer para melhorar? O canal de expectativas é super importante e qualquer ruído o afeta. Temos que diminuir o ruído. A harmonia entre fiscal , monetário e câmbio flutuante é importante”, disse, confirmando que vai conseguir perseguindo a meta.
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Imagem: Agência Brasil