A inflação brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,24% em junho, desacelerando ligeiramente em relação a maio (0,26%), segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (10).
No acumulado em 12 meses, a inflação atingiu 5,35%, ultrapassando o teto da meta contínua definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%.
Essa também foi a maior taxa para um mês de junho desde 2022 (0,67%) e no acumulado do ano, a inflação oficial soma 2,99%.
Segundo o IBGE, o resultado mensal foi impactado principalmente pela alta de 2,96% na energia elétrica residencial, influenciada pela entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha patamar 1.
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Nova meta contínua exige resposta do Banco Central
Este é o primeiro descumprimento formal da nova meta contínua de inflação, em vigor desde este ano. No novo regime, o Banco Central (BC) deve perseguir a meta de 3% de forma permanente, dentro de uma banda de tolerância entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Se a inflação permanecer fora desse intervalo por seis meses consecutivos, o BC será obrigado a publicar uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as causas do descumprimento, as medidas corretivas e o prazo esperado para convergência da inflação.
Também deverá incluir as justificativas no Relatório de Política Monetária, novo nome do antigo Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Dessa forma, a carta do BC ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve ser enviada até esta sexta-feira (11).
Energia elétrica impulsiona alta do IPCA
O subitem de maior impacto individual no IPCA de junho foi a energia elétrica residencial, com aumento de 2,96% e contribuição de 0,12 ponto percentual (p.p.) no índice, refletindo a entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha patamar 1, que encarece o custo da energia.
Além disso, houve reajustes regionais nas tarifas de fornecimento:
- Belo Horizonte: +8,57% desde 28 de maio
- Porto Alegre: +4,41% desde 19 de junho
- Curitiba: +3,28% desde 24 de junho
- Rio de Janeiro: -1,29% desde 17 de junho (redução de -2,16%)
Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE enfatiza que a energia elétrica residencial acumula alta de 6,93% no ano, o maior avanço para um primeiro semestre desde 2018.
“No início do ano, com o bônus de Itaipu, houve queda em janeiro, reversão em fevereiro e, depois, bandeira verde. No mês passado, entrou em vigor a bandeira amarela e, agora, a vermelha”, explica.
Alimentos recuam após nove meses de alta
O grupo Alimentação e bebidas caiu 0,18% em junho, primeira deflação desde setembro de 2024, com impacto de -0,04 p.p. no índice geral.
A alimentação no domicílio caiu 0,43%, puxada por quedas em: ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas ( -2,22%). Por outro lado, o tomate aumentou 3,25%.
A alimentação fora do domicílio desacelerou para 0,46%. Enquanto o lanche subiu de 0,51% para 0,58%, a refeição recuou de 0,64% para 0,41%.
Gonçalves destaca que “se tirássemos os alimentos do cálculo do IPCA, a inflação do mês seria de 0,36%. E se tirássemos a energia elétrica, ficaria em 0,13%”.
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Difusão da inflação recua, mas núcleos seguem pressionados
O Índice de Difusão, que mede o percentual de itens com alta de preços, caiu de 59,7% em maio para 53,6% em junho. No grupo de alimentos, caiu de 60% para 46%. Para os itens não alimentícios, ficou em 60%.
A média dos cinco núcleos de inflação monitorados pelo Banco Central, que excluem itens voláteis, desacelerou levemente de 0,30% em maio para 0,29% em junho, segundo a MCM Consultores. No acumulado em 12 meses, subiu de 5,17% para 5,23%.
Preços ao consumidor sobe 0,23% em junho
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), voltado a famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, teve alta de 0,23% em junho. A inflação acumulada em 12 meses chegou a 5,18%, abaixo dos 5,20% registrados anteriormente.
Os alimentos recuaram 0,19%, após alta de 0,26% em maio. Os produtos não alimentícios subiram 0,37%.
Entre os destaques regionais, Belo Horizonte teve a maior variação (+0,55%), com energia elétrica (8,54%) e gasolina (1,56%) e Porto Alegre se destaca pela menor variação (-0,10%), por conta da gasolina (-2,56%) e produtos de higiene pessoal (-1,79%).
Perspectivas para a política monetária após o IPCA de junho
O banco Daycoval analisa que a desaceleração do IPCA em junho não altera o quadro de inflação que ainda segue adverso e reforça a expectativa de que a taxa de inflação encerre o ano em 5,1% e que o Banco Central ainda mantenha a Selic em 15% até o fim do ano.
O economista Maykon Douglas tem uma visão otimista sobre os sinais mistos do IPCA de junho, devido à variação levemente acima do esperado, ao contrário da surpresa baixista registrada nos últimos dados de inflação.
Ainda, avalia a composição do número como boa e ressalta o núcleo de serviços em 7% na métrica MM3M SAAR pela primeira vez desde dezembro do ano passado, além de o dado reforçar um comportamento melhor que o observado nos últimos meses.
No entanto, Maykon Douglas alerta que com a adição da tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros é necessário analisar se haverá espaço para reversão parcial do movimento de política monetária e projeta que o Banco Central mantenha os juros no atual patamar, possivelmente até o fim do primeiro trimestre de 2026.
Segundo João Kepler, CEO da Equity Group, a alta do IPCA de junho e o acumulado dos 12 meses mostram que, mesmo abaixo da projeção mensal de 0,32%, a inflação segue resistente.
Ele enfatiza que a economia da nova geração exige ajustes rápidos e visão estratégica: “em vez de esperar o cenário melhorar, é preciso buscar inovação e eficiência para atravessar esse ciclo com competitividade”.
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Como o IPCA de junho afeta os negócios
Theo Braga, CEO da SME The New Economy, endossa essa perspectiva e pontua que o IPCA acumulado em alta mostra que a pressão sobre os custos das empresas continua forte, especialmente para quem está em fase de crescimento.
Braga aconselha que pequenos e médios negócios que já enfrentam barreiras estruturais no Brasil devem redobrar o foco em gestão e eficiência e enfatiza que esse é um momento de reforçar o conhecimento em finanças, liderança e execução.
Já Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, atribui o impacto às empresas ao aumento da energia elétrica e de serviços como água, esgoto e transporte, que aumentam as despesas fixas e reduzem a margem de lucro.
Segundo Eyng, isso é ainda mais crítico para setores como indústria, agronegócio e grandes redes varejistas, que têm alto consumo de energia e dependem de transporte para escoar seus produtos.
Pontua ainda que, na visão de crédito estruturado da Multiplike, esse cenário reforça a importância de pensar em soluções de longo prazo, com prazos mais adequados ao fluxo de caixa das companhias.
E analisa o cenário para o mercado de crédito: “Quando os custos sobem e a inflação não cede como esperado, o crédito precisa ser mais estratégico, ajudando a preservar a saúde financeira do negócio”.