O peso argentino disparou 10% no início das negociações desta segunda-feira (27), após a vitória inesperada — e esmagadora — do partido do presidente Javier Milei nas eleições legislativas de meio de mandato.
A moeda se valorizou para 1.355 pesos por dólar, contra 1.400 na abertura, refletindo o alívio da pressão sobre o câmbio e o aumento do apetite por ativos argentinos. Às 13h47 (horário de Brasília), a moeda argentina sobe 5,75%, a 0,0038.
O otimismo do mercado também impulsionou o índice S&P Merval, da Bolsa de Buenos Aires, que abriu o pregão em alta superior a 1%, enquanto o dólar caía 8,82% frente à moeda argentina, negociado a 1.349,99 pesos. Há pouco, o Merval saltava 20,68%, atingindo 2.506.365,00 pontos.
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Os ganhos ocorreram em meio ao recuo do risco-país e ao otimismo com a continuidade da agenda econômica liberal do governo, baseada em cortes de gastos públicos, redução da intervenção estatal e reformas estruturais.
Até a última terça-feira (22), o peso havia atingido uma mínima histórica, e os títulos soberanos recuavam, diante da incerteza eleitoral. O resultado das urnas mudou a percepção dos investidores e devolveu fôlego ao mercado argentino.
Vitória inesperada de Milei
Com 97,86% das urnas apuradas, o partido La Libertad Avanza (LLA), de Milei, conquistou 40,74% dos votos para a Câmara dos Deputados e deverá contar com 102 parlamentares, somando forças com o aliado Pro, fundado pelo ex-presidente Mauricio Macri.
No Senado, o governo ampliará sua bancada de seis para 20 cadeiras, consolidando maior poder de articulação legislativa.
O banco Citi avalia que “os resultados sugerem que os eleitores argentinos ampliaram seu apoio ao programa econômico do presidente Milei, posicionando seu governo de forma mais centralizada para a construção de consenso e concedendo mais tempo para reformas econômicas”.
O banco acrescenta que setores como bancos, empresas de serviços públicos e companhias ligadas ao campo de petróleo de Vaca Muerta devem se beneficiar.
O relatório do Citi acrescenta ainda: “Hoje marca o primeiro dia da segunda metade do mandato do governo. O foco imediato provavelmente será restaurar a confiança do mercado, que sem dúvida diminuiu nos últimos meses. Outra área de foco provavelmente será garantir o apoio do Congresso para a reforma microeconômica”.
Títulos soberanos e dívida em dólar nas alturas
Os títulos da dívida soberana argentina em dólar avançaram em toda a curva nesta segunda-feira após o resultado eleitoral. Segundo dados compilados pela Bloomberg, os papéis com vencimento em 2035 subiram mais de 13 centavos, para 70,34 centavos de dólar, liderarando os ganhos entre mercados emergentes.
Desde a posse de Milei, em 2023, a dívida em dólar acumula valorização de 144%, ficando atrás apenas de Líbano e Equador no ranking de desempenho da Bloomberg. A ascensão de Milei ao poder desencadeou uma forte alta nos mercados argentinos, impulsionando ações e títulos soberanos.
Esses ganhos começaram a se desfazer no mês passado, após desempenho fraco de Milei em eleições locais. Na ocasião, os rendimentos dos títulos com vencimento em 2035 dispararam para mais de 17%, enquanto a moeda caiu até 7% em uma única sessão, com investidores questionando a capacidade do governo de aprovar sua agenda econômica no Congresso.
EUA salva mercado argentino da volatilidade
O apoio dos Estados Unidos foi decisivo para conter a volatilidade recente. Segundo operadores, o Tesouro americano interveio diretamente, comprando pesos e ofertando dólares no mercado, operação estimada em mais de US$ 1 bilhão.
A medida manteve o peso dentro da banda cambial acordada no último programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI), fechado em abril. A moeda, no entanto, encerrou a sexta-feira anterior (24) a 1.492 por dólar, próxima do limite superior da faixa.
No mercado de criptomoedas, o peso chegou a ser negociado a 1.435 por dólar, indicando valorização de cerca de 4,8%.
Trump diz que vitória de Milei teve “muita ajuda” americana
Durante a atual viagem à Ásia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a vitória de Milei nas eleições legislativas teve “muita ajuda” americana, referindo-se ao pacote de US$ 40 bilhões oferecido a Buenos Aires.
“Ele teve muita ajuda nossa. Teve muita ajuda. Eu dei a ele um endosso, um endosso muito forte”, disse Trump, creditando parte do apoio ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, que supervisionou a assistência financeira após a desvalorização do peso no mês passado.
Trump afirmou que o pacote total inclui um swap de US$ 20 bilhões já assinado e uma proposta de linha de investimento adicional em dívida de outros US$ 20 bilhões.
“Ganhamos muito dinheiro com base nessa eleição, porque os títulos subiram. Toda a classificação de crédito deles melhorou”, declarou.
O republicano também destacou que “foi uma aposta em um país que havia dado calote em suas obrigações financeiras diversas vezes nas últimas décadas”. Já Bessent descreveu o apoio americano como uma “ponte” para sustentar o plano econômico de Milei.
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Perspectivas e classificação de risco para a Argentina
A Fitch Ratings afirmou que o suporte dos EUA impediu um rebaixamento da nota de crédito da Argentina, mas destacou que o país ainda precisa de um plano mais amplo para reconstruir suas reservas cambiais e conquistar uma elevação da nota.
Atualmente, a Argentina deve cerca de US$ 55 bilhões ao FMI, resultado de sucessivos pacotes de resgate nas últimas décadas.









