A inflação persistente e os juros elevados estão afetando diretamente o comportamento das famílias em São Paulo. O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) recuou 2,3% em abril, atingindo 104,4 pontos, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Apesar da queda, o índice segue acima dos 100 pontos, indicando um otimismo moderado. Na comparação anual, o ICF teve retração de 5,2%, registrando quedas consecutivas neste tipo de análise.
A escala do ICF varia de 0 a 200, sendo que valores acima de 100 apontam para uma visão positiva das famílias em relação ao consumo.
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Confira a variação do consumo das famílias por período:

Inflação reduz confiança do consumidor
Outro dado que reforça o cenário de cautela é o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que mede o grau de otimismo em relação à economia. O ICC caiu 3,6% em abril, ficando em 111 pontos. Em relação ao mesmo mês do ano passado, a retração é ainda mais significativa, de 14,3%.
Esse índice é composto por dois subindicadores:
- Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA-ICC): caiu 6,9% no mês, chegando a 103,9 pontos. No ano, a queda foi de 11,2%.
- Índice das Expectativas do Consumidor (IEC-ICC): recuou 1,6% no mês e 16,1% no acumulado de 12 meses, ficando em 115,7 pontos.
No ICF, apenas Emprego Atual avançou 1%, para 134,4 pontos. Os demais componentes caíram, com destaque para Intenção de Compra de Bens Duráveis, contrariando setores como móveis e eletrodomésticos.
Inflação persistente atinge famílias mais ricas
A retração na intenção de consumo foi registrada em todas as faixas de renda. Entre as famílias com ganhos superiores a 10 salários mínimos, a queda foi de 3,2%, totalizando 112,9 pontos. Já entre aquelas com renda inferior, o recuo foi de 1,9%, para 101,5 pontos.
O único subindicador do ICF que apresentou alta em abril foi o de Emprego Atual, com avanço de 1%, atingindo 134,4 pontos. Os demais componentes do índice caíram, com destaque para o pessimismo em relação ao consumo de bens duráveis.
Selic a 14,75 % amplia pressões sobre renda e investimento
Segundo Odilon Guedes, presidente do Corecon‑SP, o aumento da Selic para 14,75 %, que mantém o juro real entre os maiores do mundo, “é disfuncional porque a alta recente da inflação vem, sobretudo, de alimentos e produtos de saúde”. E destaca os efeitos da alta dos juros:
- Queda nos investimentos: custo de capital mais alto desestimula projetos empresariais.
- Menor consumo: financiamentos ficam caros, afetando especialmente bens duráveis.
- Desemprego e dívida pública: a combinação de PIB menor e serviço da dívida maior pressiona contas públicas e mercado de trabalho.
Mudança no cálculo do salário mínimo limita poder de compra
Guedes enfatiza, ainda, a alteração recente da regra de reajuste do salário mínimo como ponto prejudicial ao consumo:
- Antes – correção pela inflação + variação do PIB de dois anos antes.
- Agora – correção pela inflação + até 2,5 %, teto imposto pelo Arcabouço Fiscal.
Ressalta também a estimativa do DIEESE de que, para satisfazer as necessidades básicas definidas pela Constituição, o salário mínimo deveria ter sido R$ 7.398,94 em março, valor quase cinco vezes o piso atual.
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Adaptação ao cenário econômico é fundamental
A FecomercioSP recomenda que consumidores e empresários se adaptem ao cenário econômico atual. Para as famílias, o planejamento financeiro e a busca por fontes alternativas de renda são essenciais.
Já para os empresários, estratégias como programas de fidelidade, vendas online, uso de crédito via Pix e revisão de custos podem ajudar a manter a competitividade em um ambiente de consumo enfraquecido.