A demanda por crédito no agronegócio brasileiro ultrapassou R$ 1 trilhão no ano passado, colocando em evidência a força do agro na economia e um desequilíbrio histórico no acesso ao capital — ainda concentrado em grandes produtores e nas linhas tradicionais de financiamento rural.
Segundo o Boletim de Finanças Privadas do Agro, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), esse cenário vem impulsionando um novo ecossistema financeiro no campo: o das agfintechs, startups que unem tecnologia e finanças para atender às particularidades da produção agrícola.
- Quer saber onde estão as oportunidades em commodities hoje? Descubra na sala de trade, ao vivo, com Guto Gioielli e time! [Acesse agora]
Em expansão, Brasil soma 97 agfintechs
De acordo com o relatório Radar Agtech Brasil 2024, elaborado pela Embrapa em parceria com a SP Ventures e a Homo Ludens Research, o país contava com 97 agfintechs no período, o que representa um crescimento de 14,1% em relação a 2023.
Desde 2019, o levantamento acompanha o avanço do setor, que posiciona o Brasil como um dos polos globais de inovação agrícola.
As soluções oferecidas por essas startups são diversas, incluindo:
- CPR digital (antecipação de recebíveis lastreados em produção)
- Crédito peer-to-peer (entre pessoas ou empresas, sem intermediação bancária)
- Seguro paramétrico, com base em dados climáticos
- Plataformas integradas de gestão de risco e finanças
Com a digitalização do agro, o Brasil já é o segundo país no mundo em adoção de tecnologias no campo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Desigualdade no mercado de crédito rural
Atualmente, R$ 277 bilhões vêm de crédito subsidiado e R$ 215 bilhões são oferecidos por grandes bancos. Mesmo representando entre 20% e 25% do PIB nacional, o setor agro é atendido por apenas 5% dos produtos financeiros disponíveis no mercado.
Essa lacuna abre oportunidades para inovação e para a entrada de novos investidores, com foco em diversificação, inclusão e eficiência.
Tendências que moldam o futuro das agfintechs
1. Avanço das insurtechs agrícolas
O mercado de seguros rurais no Brasil ainda é incipiente, especialmente quando comparado a economias como a dos EUA.
A crescente exposição a eventos climáticos extremos e à volatilidade de preços torna as insurtechs (startups especializadas em seguros) mais relevantes. Elas oferecem:
- Precificação com base em dados meteorológicos
- Sensoriamento remoto
- Seguros paramétricos, que simplificam e aceleram a compensação de perdas
2. Especialização das agfintechs por cadeias produtivas
Há um movimento de segmentação entre as agfintechs, que estão focando em soluções para setores específicos:
- Proteína animal: fintechs que atendem pecuaristas e produtores de aves e suínos.
- Cooperativas agroindustriais: com plataformas para crédito, repasse e gestão de recebíveis.
- Exportadores de café, cacau e frutas: soluções voltadas ao comércio exterior e contratos de longo prazo.
A segmentação aumenta a eficiência operacional e melhora a aderência das soluções às realidades locais.
3. Trade finance no agro
Com o peso crescente das exportações no agro, surgem fintechs voltadas ao financiamento do comércio internacional. Elas oferecem:
- Antecipação de recebíveis para exportadores
- Financiamento estruturado para operações de exportação/importação
- Ferramentas de hedge cambial e mitigação de risco
A demanda por essas soluções tende a crescer diante de regras mais rígidas para exportações, como o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR).
4. Consolidação do setor
Com a redução da liquidez global e a maior seletividade dos fundos de venture capital, o setor pode entrar em um ciclo de fusões e aquisições.
A junção de portfólios e bases de clientes pode fortalecer a competitividade das agfintechs que desejam crescer de forma sustentável.
- As melhores oportunidades do dia, direto dos especialistas. Entre na sala de trade e receba calls ao vivo! [Acesse agora]
Mercado de capitais também financia o agro
Além das fintechs, o mercado de capitais tornou-se uma alternativa viável para financiar o agronegócio. A Resolução CVM 88, em vigor desde 2022, permite captações públicas de até R$ 15 milhões por meio de plataformas de investimento coletivo reguladas.
Entre os instrumentos disponíveis, destacam-se:
- CRAs pulverizados (Certificados de Recebíveis do Agronegócio)
- Notas Comerciais lastreadas em recebíveis rurais
- CPRs pulverizadas (Cédulas de Produto Rural)
Essas estruturas ampliam o acesso ao capital para startups, pequenos produtores e empresas fora do radar bancário tradicional.
Investidores buscam retorno com impacto no agro
O perfil do investidor no agro também está mudando. Se antes a prioridade era apenas a rentabilidade, agora há maior interesse por investimentos com propósito — voltados à sustentabilidade, rastreabilidade de alimentos, agricultura regenerativa e descarbonização da produção.
Segundo Henrique Galvani, CEO da Arara Seed, “O desafio do agro hoje não é apenas produzir em escala, mas inovar com responsabilidade, rastreabilidade e menor impacto ambiental.”
Galvani ressalta que a nova lógica abre espaço para investimentos mais descentralizados e alinhados aos valores do investidor moderno.
- 🔥 Quem tem informação, lucra mais! Receba as melhores oportunidades de investimento direto no seu WhatsApp.
Projeção para investimentos nos próximos anos
Galvani pontua que com um ecossistema em expansão, demanda reprimida por crédito e startups cada vez mais preparadas para escalar, o agronegócio brasileiro vem se posicionando como um dos setores mais promissores para quem deseja unir impacto e retorno financeiro.
Segundo ele, o setor tende a receber bilhões em aportes nos próximos anos, com foco em:
- Inteligência artificial aplicada ao campo
- Insumos biológicos e de baixo impacto
- Monitoramento climático de precisão
- Desenvolvimento de agroflorestas
- Plataformas digitais de crédito e seguro rural