A Apple (AAPL) estima um impacto de US$ 900 milhões em seus custos no segundo trimestre fiscal de 2025, encerrado em junho, em decorrência do atual regime tarifário dos Estados Unidos sobre produtos importados da China.
Segundo o CEO da Apple, Tim Cook, a projeção considera o cenário atual de tarifas, sem mudanças ao longo do trimestre.
O mercado teve reação negativa ao anúncio, de forma que as ações abrissem a sessão desta sexta-feira (2) em forte queda de 4,8%.
Às 15h25 (horário de Brasília), os papéis AAPL caíam 3,91%, negociados a US$ 204,71 na Nasdaq.
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O aumento nos custos ocorre após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar em abril tarifas de até 145% sobre produtos chineses, incluindo um adicional de 125% em categorias específicas, como acessórios e serviços do AppleCare.
Apesar de os iPhones não estarem sujeitos às tarifas mais altas, produtos fabricados na China enfrentam uma taxa mínima de 20%, o que pressiona os custos da empresa.
Apple migra produção para Índia e Vietnã
Para mitigar os efeitos das tarifas e reduzir riscos geopolíticos, a Apple tem acelerado a realocação de sua cadeia de suprimentos.
Segundo Tim Cook, a maioria dos iPhones vendidos nos EUA será fabricada na Índia ainda neste ano. Já os iPads, Macs, Apple Watches e AirPods para o mercado norte-americano terão como principal origem o Vietnã.
A estratégia faz parte de um plano de diversificação industrial iniciado nos últimos anos. A Índia, por exemplo, já responde por 20% da produção global de iPhones, incentivada por subsídios do governo local. O Vietnã, por sua vez, oferece mão de obra especializada e acordos comerciais com os EUA.
A Apple ainda não divulgou o impacto total da mudança nas margens operacionais, mas analistas apontam que a transição pode gerar custos logísticos adicionais no curto prazo.
Resultados superam expectativas
Mesmo diante do cenário de incerteza comercial, a Apple reportou lucro líquido de US$ 24,78 bilhões no trimestre encerrado em março — um crescimento de 4,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro por ação foi de US$ 1,65, acima da expectativa dos analistas, de US$ 1,62.
A receita total alcançou US$ 95,36 bilhões, alta de 5%. A receita com vendas de iPhones chegou a US$ 46,84 bilhões (+1,9%).
O lançamento do iPhone 16e, modelo com recursos limitados de inteligência artificial, impulsionou a demanda, especialmente antes da entrada em vigor das tarifas.
As receitas com Macs cresceram 6,7% (US$ 7,95 bilhões), e com iPads, 15,1% (US$ 6,4 bilhões). Já a linha de acessórios (como Apple Watch e AirPods) teve queda de 4,9%, somando US$ 7,52 bilhões.
Os serviços digitais — incluindo App Store, Apple Music e iCloud — somaram US$ 26,64 bilhões, com crescimento de 11,6%.
Vendas na China recuam no trimestre
A receita da Apple na China caiu 2,3% no trimestre, totalizando US$ 16 bilhões, abaixo da expectativa dos analistas (US$ 16,83 bilhões).
A empresa enfrenta concorrência de marcas locais, como Huawei e Xiaomi, além de restrições do governo chinês ao uso de tecnologia estrangeira em repartições públicas.
Investigação nos EUA pode ampliar tarifas
Outro fator monitorado por investidores é uma investigação aberta pelo Departamento de Comércio dos EUA com base na Seção 232. O processo pode ampliar o escopo das tarifas para semicondutores e produtos derivados, componentes essenciais para os dispositivos da Apple.
Caso a investigação leve a novas restrições, o impacto pode se estender para toda a cadeia de tecnologia, com possíveis efeitos sobre preços finais, margens e planejamento industrial.
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Apple reforça compras de chips nos EUA
Como parte de sua estratégia de diversificação e resposta à pressão geopolítica, a Apple anunciou que planeja gastar mais de US$ 19 bilhões em chips produzidos nos EUA ao longo de 2025. A medida é considerada um marco na tentativa de reduzir a dependência de fornecedores asiáticos, especialmente da China e Taiwan.
Grande parte desses semicondutores virá da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que está construindo e expandindo fábricas no estado do Arizona. A Apple será a primeira e principal cliente da nova planta da TSMC nos EUA, segundo o CEO Tim Cook. A produção no local deve começar ainda este ano.
“Nos próximos anos, muitos de nossos chips, incluindo os dos iPhones e Apple Watches, serão produzidos no Arizona”, disse Cook.
Ele destacou que “dezenas de milhões de processadores” devem sair da unidade norte-americana, reforçando o compromisso da Apple com a produção doméstica de tecnologia crítica.
Além do aspecto estratégico, a iniciativa está alinhada com a lei CHIPS dos EUA, que oferece incentivos fiscais e subsídios para estimular a produção local de semicondutores e reduzir a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos global, especialmente em um cenário de tensões entre Washington e Pequim.