Entidades do setor cafeeiro seguem confiantes de que apesar do café não ter entrado na primeira lista de 694 exceções divulgada pela Casa Branca nesta quarta-feira (30), a commodity ainda pode escapar da tarifa de 50% que entrará em vigor no dia 6 de agosto.
Entre as principais associações que apostam em uma reversão do cenário por meio do diálogo estão: a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
- Quer conhecer o Copy Invest do Portal das Commodities? Clique aqui.
“Temos na história recente das relações comerciais casos de outros países com reversões de escalada de tarifas. Seguiremos colaborando com as autoridades, confiando na diplomacia brasileira e apostando na força econômica e social do café para os EUA”, afirmou a Abic.
A próxima semana será decisiva. O setor produtivo, o governo e entidades de comércio internacional esperam conseguir negociar a inclusão do café na lista de exceções antes que as tarifas entrem efetivamente em vigor.
Brasil fornece mais de 30% do café consumido nos EUA
Um dos motivos observados para uma reviravolta é o fato do país ser o principal fornecedor de café aos Estados Unidos, com fatia superior a 30% do mercado americano, bem como a relevância do setor para ambos, visto que cerca de 76% dos norte-americanos consomem café regularmente.
- Operações estratégicas, decisões assertivas. Participe da sala de trade e veja as calls matinais dos especialistas! [Entre aqui]
Para a Abic, o adiamento do início da tarifa, antes previsto para 1º de agosto, representa uma janela importante para negociações. “Em uma mesa de negociação, todo tempo ganho é válido”, afirmou a associação em nota. As tratativas com parceiros americanos, como a National Coffee Association, seguem em andamento.
Impacto estimado e reação do governo brasileiro
O governo brasileiro também intensificou as articulações. Após a assinatura da ordem executiva por Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ministros da Fazenda, Indústria e Comércio, Advocacia-Geral da União e outros para discutir medidas. O café continua na lista de produtos taxados, ao lado da carne bovina e do aço.
Para o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, há espaço para reversão até a entrada em vigor. “Ficou café e carnes na lista de tarifas, o que é curioso, pois os EUA têm pouquíssima produção local”, afirmou.
- Toda grande decisão precisa de estratégia. Baixe o eBook gratuito de Guto Gioielli e aprenda a investir com método.
Ele avalia que, até as eleições americanas de 2026, o comércio entre os dois países seguirá como tema recorrente no mercado, mas acredita que a impressão atual indica que “em poucos dias não estaremos falando de tarifas”
Impacto do café na balança comercial e no PIB
Nos cálculos do Bradesco, o impacto total do tarifaço, considerando os produtos que permanecem sujeitos à alíquota de 50%, pode reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em até 0,3 ponto percentual em 12 meses. O café está entre os itens considerados mais sensíveis, mas com possibilidade de redirecionamento de mercado.
O banco destaca que cerca de 45% das exportações do Brasil para os EUA foram poupadas pela lista de exceções, incluindo setores como aviação, celulose e suco de laranja.
Já o café permanece exposto. O efeito sobre o câmbio, se ocorrer, pode ser de até 4% de depreciação do real, segundo as estimativas da equipe econômica do Bradesco.
- 📈 Quer investir como os grandes? Veja os ativos selecionados pelos especialistas do BTG – 100% grátis!
Associações analisam cenário com cautela
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a lista de quase 700 produtos excluídos surpreendeu positivamente. “A lista atenuou claramente o tarifaço. Muita coisa foi incluída, ninguém esperava isso”, disse.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) também apontou que a lista de exceções representa 43,4% dos US$ 42,3 bilhões exportados pelo Brasil aos EUA. Ainda assim, avalia que o impacto sobre setores estratégicos permanece relevante.
Leonardo Costa, economista da ASA Investimentos, estima que a alíquota média final ficará em torno de 30%. No caso do café, classificado como commodity, o redirecionamento global é possível, mas incerto.