Os investimentos dos grandes fundos internacionais na JBS (JBSS3) entraram na mira da ONG internacional Global Witness. Em reportagem publicada nesta semana, a entidade está pressionando gestoras como BlackRock e Vanguard a fecharem as torneiras do financiamento à empresa, pelo que chama de “atuação controversa em relação às práticas ambientais”.
O texto publicado lista os vínculos com desmatamento e abusos de direitos humanos na cadeia de produção da JBS para apontar como contradição o fato de a companhia receber dinheiro destinado a investimentos ESG — ligados a boas práticas ambientais, sociais e de gestão.
A exigência que a companhia se volte para o desenvolvimento sustentável não é nova e já atrapalhou os planos da JBS de abrir seu capital na Bolsa de Nova York.
Em fevereiro deste ano, enquanto a empresa planejava negociar suas ações na NYSE, a procuradora-geral de Nova York, Letitia James entrou com uma ação contra a empresa acusando-a de enganar os consumidores com falsas alegações de sustentabilidade para aumentar as vendas.
Vale lembrar que os EUA são o maior mercado da JBS e foco de sua estratégia de crescimento global. E que desde novembro do ano passado, uma organização intitulada “Ban the Batistas” — com financiadores ocultos — vem movimentando políticos e lobistas em Washington, contra a listagem da empresa nos EUA.
O Monitor do Mercado está em contato com a JBS desde segunda-feira (5), para que a empresa se posicione em relação às acusações feitas pela Global Witness, mas a companhia, até a publicação dessa notícia, não enviou qualquer informação relevante.
Fundos ESG com recorde em efeito estufa
A Global Witness acusa a JBS de praticar o “greenwashing”, quando a empresa simula ter responsabilidade ambiental, apenas por marketing ou para obter vantagens no mercado financeiro.
A produção de carne bovina emite a maior parte dos gases de efeito estufa de qualquer commodity alimentar, e a pecuária é responsável por 14,5% das emissões globais anuais de gases de efeito estufa.
Em 2021, o Grupo JBS, controladora global da JBS USA, registrou emissões globais totais de gases de efeito estufa de mais de 71 milhões de toneladas, mais do que as emissões totais de alguns países.
Segundo a procuradora-geral Letitia James, a empresa de não tem “nenhum plano viável” para cumprir seu compromisso público de atingir zero emissões líquidas de carbono até 2040, como prometido pela companhia.
Ativos ESG da JBS
Ao todo, seis empresas detêm mais de 11 milhões de dólares em títulos ativos emitidos pela JBS e suas subsidiárias por meio de fundos de ESG (que deveriam investir em companhias com boas práticas ambientais, sociais e de governança).
A BlackRock e Vanguard estão entre as gestoras com mais títulos ativos emitidos pela JBS e suas subsidiárias por meio de fundos comercializados como ambientalmente amigáveis.
Possível concentração nas mãos dos irmãos Batista
A operação de IPO em Nova York, pode conceder à família Joesley e Wesley Batista 90% do controle da JBS, de forma que assumam controle sobre quase 20% do mercado de carne dos EUA.
Com a ampliação do mercado de exportação brasileiro e redução extrema da oferta de gado dos EUA (atuando em seu nível mais baixo desde 1951), atualmente a JBS exerce uma dominação enquanto fornecedor de produtor à base de carne e fast-food para o mercado americano.
Queda nos investimentos
Segundo o projeto Financial Exclusion Tracker, desde 2021 até maio deste ano, diversos investidores, inclusive bancos e fundos de pensão, deixaram de investir na JBS devido aos seus vínculos com a perda de biodiversidade e questões de governança.
As gestoras BrackRock e Vanguard foram contactadas pelo Monitor do Mercado, mas não se posicionaram em relação à reportagem da Global Witness.
Imagem: Bitenka