O preço do café moído acumula alta de 80% nos 12 meses encerrados em abril, segundo os últimos dados da inflação divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (15). A escalada reflete os efeitos do clima adverso, da crescente demanda global e das dificuldades logísticas.
As discussões sobre o preço do café invadiram as mesas dos brasileiros no último ano. Mas nas mesas de negociações, os investidores têm buscado proteção contra a volatilidade no mercado futuro, enquanto estratégias como hedge (que reduz a exposição a riscos) se popularizam entre cafeicultores.
O salto nos preços ocorre durante a entressafra brasileira, reduzindo os volumes embarcados. Ainda assim, a receita cambial cresceu, sustentada pela valorização do produto.
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Exportações de café caem, mas receita cresce com valorização
De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Brasil exportou 13,8 milhões de sacas de janeiro a abril de 2025 — queda de 15,5% frente ao mesmo período do ano passado. Em contrapartida, a receita cambial disparou 51%, chegando a US$ 5,23 bilhões, o maior valor já registrado no período.
O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, aponta que o movimento é esperado após um ano de embarques recordes e que a valorização do café no mercado internacional tem sustentado o faturamento.
Clima e custos pressionam produção
Ao Monitor do Mercado, Guto Gioielli, fundador do Portal das Commodities, explicou que as alterações climáticas vêm afetando diretamente a produção brasileira de café.
“Nos últimos quatro anos, o Brasil enfrentou secas severas, geadas e ondas de calor, o que levou ao aborto de frutos e à queda na produtividade”, afirma.
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Esse cenário elevou os custos de produção, fazendo com que os custos da matéria-prima subissem 224%, refletindo diretamente em um aumento de 110% no preço ao consumidor final.
A escassez não se restringe ao Brasil. Gioielli destaca que países como Vietnã e Indonésia, grandes produtores de café robusta, também enfrentaram quebras de safra, contribuindo para a redução da oferta global e a pressão sobre os preços internacionais.
Logística encarecida por conflitos
Outro fator destacado por Gioielli é a crise logística provocada por conflitos no Oriente Médio. “Houve aumento nos custos de embarque e nos preços de contêineres, o que encarece a exportação e impacta diretamente os preços internacionais”, explica.
Apesar das dificuldades na produção, o consumo de café continua crescendo. “O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, atrás apenas da água. E a China, que em 2023 estava na 20ª posição, já ocupa o 6º lugar entre os maiores importadores do Brasil”, ressalta Gioielli.
Esse avanço pressiona a oferta interna e aumenta a relevância do mercado asiático para a cadeia produtiva brasileira.
Perspectivas para o café nos próximos anos
As perspectivas para os próximos anos exigem atenção, segundo Gioielli. “O setor precisa investir em tecnologias de produção mais resilientes e adaptar-se às mudanças climáticas, além de buscar eficiência na logística”, diz.
Ele acredita que o Brasil pode colher uma safra significativa em 2026, tanto de arábica quanto de conilon, caso as condições climáticas se mantenham favoráveis após a colheita e durante a florada.
No entanto, Gioielli faz um alerta: “Mesmo com produção apertada em 2025, agentes financeiros podem reduzir posições compradas no mercado, o que pode derrubar os preços”.
Ainda assim, ele vê cenário positivo para o produtor. As cotações devem continuar favoráveis e, com uma produção mais robusta a partir de 2026, o país pode ampliar seu market share e oferecer preços mais competitivos à indústria nacional.