Quando você se depara com um aumento no preço de um produto no supermercado, é provável que a culpa não seja apenas da inflação ou da safra. Existe um vilão invisível e caro embutido em quase tudo que consumimos: o “custo logístico”. Ele representa todo o gasto para tirar um produto da fábrica ou da fazenda e colocá-lo na prateleira, e no Brasil, esse custo é um dos mais altos do mundo.
Desde um buraco na estrada e uma fila no porto até o preço do pedágio que um caminhão paga para chegar a cidade, cada etapa da jornada de um produto adiciona centavos — ou reais — ao seu valor final. Entender o “efeito logística” é fundamental para compreender por que, muitas vezes, o custo de vida no país parece tão elevado.
O que é o “custo logístico” e por que ele é tão alto no Brasil?

Logística é a arte de movimentar e armazenar coisas de forma eficiente. O custo logístico é a soma de todos os gastos envolvidos nesse processo: transporte (frete), armazenamento, gestão de estoque e impostos. No Brasil, estima-se que esses custos consumam mais de 12% de todo o Produto Interno Bruto (PIB), uma fatia muito maior do que em países como os Estados Unidos (cerca de 8%).
A principal razão para esse custo elevado é a nossa extrema dependência do transporte rodoviário. Mais de 60% de toda a carga no país é movimentada por caminhões, um modal caro e vulnerável às condições das nossas estradas, aos preços dos combustíveis e aos constantes reajustes de pedágios.
De que forma um buraco na estrada chega ao preço do seu iogurte?
Pode parecer um exagero, mas a má qualidade das rodovias brasileiras tem um impacto direto no preço do iogurte, da alface e de todos os outros produtos. Pesquisas de confederações de transporte mostram que rodar em estradas mal conservadas aumenta o custo operacional de um caminhão em mais de 30%.
Isso acontece porque um asfalto ruim causa mais desgaste de pneus e peças da suspensão, aumenta o consumo de combustível e reduz a velocidade média da viagem, o que significa mais horas de trabalho do motorista. Todos esses custos extras são somados pela transportadora e repassados no valor do frete, que por sua vez é embutido no preço do produto final.
O pedágio é apenas um “pequeno” acréscimo no custo total?
Para um carro de passeio, o pedágio é um custo pontual. Para um caminhão, que passa pelos mesmos eixos várias vezes ao dia, ele é uma despesa operacional gigantesca.
As empresas de logística não absorvem esse aumento; elas o repassam diretamente para seus clientes (a indústria, o agronegócio, o varejo) na forma de uma nova tabela de frete. E, na ponta da cadeia, quem paga essa conta é o consumidor final, com um pequeno acréscimo no preço de cada mercadoria.
Quais são os principais “gargalos” que encarecem os produtos?
O “custo Brasil” na área de logística é formado por um conjunto de problemas crônicos que, somados, criam uma grande ineficiência e encarecem a operação como um todo.
Superar esses gargalos é um dos maiores desafios para que o país se torne mais competitivo e os produtos, mais baratos para a população.
A má qualidade das estradas
Como mencionado, mais da metade da malha rodoviária pavimentada do país é classificada como regular, ruim ou péssima, gerando custos extras de manutenção e combustível.
O alto custo dos pedágios e combustíveis
O Brasil possui uma das políticas de pedágio mais caras e uma alta carga tributária sobre os combustíveis, o que impacta diretamente o preço do frete.
A burocracia e as filas nos portos
A demora para liberar cargas de importação ou para embarcar produtos para exportação gera custos de armazenagem e atrasos que afetam toda a cadeia produtiva.
O roubo de cargas
O alto índice de roubo de cargas nas estradas brasileiras obriga as empresas a investirem pesado em seguros e sistemas de segurança, um custo que é inevitavelmente repassado ao consumidor.
Como a demora em um porto pode aumentar o preço do eletrônico que você quer?
Quando você compra um celular, uma televisão ou qualquer outro produto com componentes importados, parte do preço que você paga é influenciado pela eficiência dos nossos portos. O Porto de Santos, o maior da América Latina, é a principal porta de entrada e saída de mercadorias do país.
Um navio que fica dias esperando para atracar, ou uma carga que demora semanas para ser liberada pela burocracia da alfândega, gera enormes custos de armazenagem e taxas portuárias para o importador. Esses custos extras são adicionados à planilha de nacionalização do produto e, no final, quem paga por essa ineficiência portuária é você.
O consumidor tem como se defender do “custo Brasil”?
É impossível para o consumidor individual escapar completamente do custo logístico, pois ele está embutido em quase tudo. No entanto, uma estratégia de consumo consciente pode minimizar seu impacto no seu bolso.
A forma mais eficaz de fazer isso é valorizar e priorizar os produtos locais e de época. Eles não carregam o mesmo peso do frete de longa distância, dos múltiplos pedágios e dos outros gargalos de uma logística nacional, tornando-os, muitas vezes, mais frescos e mais baratos.