As ações da Cosan (CSAN3) despencaram no pregão desta segunda-feira (22), após a companhia anunciar um aumento de capital de R$ 10 bilhões, ancorado por sócios do BTG Pactual e da gestora Perfin, que se tornaram acionistas da holding controlada por Rubens Ometto.
Os papéis encerraram o pregão com uma desvalorização de 18,13%, negociados a R$ 6,14. Durante o dia, as ações chegaram a uma queda de 20,13%, liderando na ponta negativa do Ibovespa e impactando o índice desde a abertura dos leilões.
Um levantamento da Elos Ayta traz dados ainda mais impactantes sobre a reação do mercado ao anúncio: em apenas um dia, a Cosan perdeu R$ 2,52 bilhões em valor de mercado, montante equivalente ao valor de toda a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Após a perda, a Cosan passou a valer R$ 11,41 bilhões.
Na mínima intradia, a ação chegou a cair 24,93%, registrando perda momentânea de R$ 3,47 bilhões. No final da manhã desta terça-feira, as ações voltaram a operar em baixa, com leve queda de 0,16, a R$ 6,13.
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Investimento provoca diluição para acionistas
O modelo de investimento adotado pela Cosan implica diluição para acionistas controladores e minoritários. Segundo análise da XP, a falta de direito de preferência para acionistas existentes na primeira oferta gerou questionamentos entre investidores.
No entanto, a operação difere de um book building aberto, pois garante investidores de longo prazo (lock-up de 4 anos e acordo de acionistas de 20 anos) e permite uma sucessão gradual no controle da empresa.
Os minoritários poderão ter redução de participação entre -7,5% e -17,3%, enquanto o grupo de controle será diluído em cerca de 12%.
Atualmente, os minoritários detêm 64% do free float, enquanto a oferta ao mercado representa 27,5% desse total, reforçando a diluição relativa.
O aumento de capital será realizado em duas etapas:
- Oferta base: R$ 7,25 bilhões subscritos pelos acionistas-âncora, com preço de R$ 5 por ação, abaixo do fechamento de R$ 7,50 em 19 de setembro, com lock-up de quatro anos para os investidores do consórcio.
- Oferta adicional (“hot issue”): até R$ 2,75 bilhões, destinada apenas à base acionária existente, representando 25% da oferta base (R$ 1,81 bi). Nesta etapa, os acionistas terão lock-up de 2 anos para 50% das ações.
O preço final poderá ser ajustado via book building, com a primeira oferta precificada em 3 de novembro e a segunda em 11 de novembro, antes da divulgação dos resultados do 3º trimestre.
Impacto no endividamento da Cosan
Segundo o CEO da Cosan, Marcelo Martins, com o aporte dos novos acionistas, a dívida corporativa da Cosan deve cair 57%, de R$ 17 bilhões para R$ 7,5 bilhões. A meta, no entanto, é chegar o mais próximo de zerar o endividamento nos próximos anos.
De acordo com o diretor-financeiro e de relações com investidores, Rodrigo Araújo, os recursos serão utilizados exclusivamente para reduzir dívida, e não em outros negócios do grupo, como a Raízen, que possui dívida próxima de R$ 50 bilhões.
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Confira o calendário da operação:
- 23 de outubro: AGE para aprovar aumento de capital e dispensa de cláusula “poison pill”
- 3 de novembro: lançamento da primeira oferta de R$ 7,25 bilhões, com hot issue de R$ 1,81 bilhão
- 11 de novembro: segunda oferta de até R$ 2,75 bilhões, precificada antes da divulgação do 3º trimestre
Sucessão e governança da Cosan
O aumento de capital também trata da sucessão do grupo, que Martins classificou como “urgente”. O acordo de acionistas terá validade de 20 anos, mantendo Rubens Ometto à frente do conselho por três mandatos, ou seis anos, quando completará 81 anos.
Ometto mantém controle da holding via family office Aguassanta, com 50,01% das ações vinculadas ao acordo. A administração da Raízen continuará sendo executada pela Aguassanta, sem interferência dos novos sócios da Cosan.
Martins acrescentou que, após os seis anos iniciais, “há possibilidade de se vincular ações neste acordo, eventualmente mudando o desenho inicial”, abrindo caminho para que a “partnership” do BTG assuma o controle.
Segundo Renato Mazzola, sócio do BTG, o único potencial conflito está relacionado à Compass, empresa de gás do grupo Cosan, pois André Esteves, também sócio do BTG, integra o conselho da Eneva, concorrente da Edge.
Histórico de desvalorização da Cosan
Os dados analisados pela Elos Ayta revelam ainda que a Cosan esteve no auge em 22 de julho de 2021, quando registrava um valor de mercado de R$ 50,77 bilhões.
A partir daí, a empresa registrou desvalorizações sucessivas, chegando ao menor patamar da história, de R$ 9,7 bilhões, em 21 de agosto de 2025, e o segundo menor (R$ 11,41 bilhões) nesta segunda-feira (23).
Confira o ciclo de desvalorização e instabilidade da Cosan desde 2021:

De acordo com a Elos Ayta, desde o melhor momento em 2021, a Cosan já perdeu R$ 41,07 bilhões, valor próximo ao atual da Localiza (R$ 41,8 bilhões).
Entre o pico e o pregão de 22 de setembro, a queda acumulada foi de R$ 39,36 bilhões, superior ao valor da Copel (R$ 38 bilhões).