O mercado financeiro brasileiro pode estar prestes a viver sua maior transformação em décadas: o surgimento de uma nova Bolsa de Valores para concorrer com a B3. Com promessa de redução de custos, mais inovação e liberdade de escolha para investidores e empresas, a proposta ganha força com o avanço da CSD (Central de Serviços de Liquidação e Registro de Ativos Digitais) — uma fintech que já movimenta trilhões de reais e agora mira alto: criar a próxima bolsa de valores do Brasil.
Nesta entrevista exclusiva concedida ao Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado, Edivar Queiroz, CEO da CSD, detalha os bastidores desse movimento, as barreiras regulatórias e as implicações práticas para investidores, corretoras e o próprio funcionamento do mercado de capitais brasileiro.
📺 Assista à entrevista completa com Edivar Queiroz, CEO da CSD:
Por que o Brasil discute uma nova Bolsa de Valores?
Apesar de ser a 9ª maior economia do mundo, o Brasil está apenas na 23ª posição em desenvolvimento de mercado de capitais. O motivo? Alto custo, baixa concorrência e pouca inovação. Confira os principais pontos de tensão:
- Mercado concentrado: A B3 ainda opera praticamente sozinha no país, o que dificulta o surgimento de novos produtos e eleva os custos de operação.
- Fuga de capital: Quase 40% das posições das maiores gestoras brasileiras estão hoje no exterior, por falta de atratividade no mercado local.
- Falta de liquidez e inovação: O Brasil ainda não conta com contratos futuros agrícolas líquidos nem com derivativos modernos, limitando a atuação de investidores e empresas.
O que é a CSD e por que ela pode criar uma nova Bolsa de Valores?
A CSD (Central de Serviços de Liquidação e Registro) é uma infraestrutura financeira moderna, fundada em 2018, que já movimentou mais de R$ 5 trilhões em 2024. A empresa já atua como registradora, depositária e sistema de liquidação autorizado e, segundo seu CEO, está tecnicamente pronta para operar como Bolsa já em junho de 2026, dependendo apenas do aval do Banco Central e da CVM.
O que a CSD oferece de diferente?
- Tecnologia de ponta: Sistema próprio com processamento em streaming e integração via API, que reduz o tempo de liquidação de 24 horas para 15 minutos.
- Menores custos: Com uma estrutura mais leve, a CSD promete reduzir drasticamente os custos de emissão de ativos e de operação, eliminando práticas como a “venda casada” de produtos.
- Inclusão de players: A nova infraestrutura oferece espaço para corretoras independentes, custodiantes e pequenos escritórios, ampliando o alcance do mercado.
- Novos mercados: Já estão em operação swaps personalizados, um produto inédito que movimentou mais de R$ 200 bilhões.
Interoperabilidade: o conceito que pode revolucionar o mercado
Um dos pontos mais disruptivos defendidos por Edivar Queiroz é a interoperabilidade entre depositárias. Isso significa permitir que diferentes plataformas operem em conjunto, o que eliminaria a necessidade de instrumentos como BDRs e ADRs e facilitaria o acesso direto a ativos internacionais.
“A interoperabilidade vai permitir que o investidor brasileiro tenha liberdade real, sem depender de uma estrutura fechada como a atual”, afirma Queiroz na entrevista.
O que falta para a nova Bolsa de Valores sair do papel?
Apesar do avanço técnico, o projeto depende de autorização regulatória do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Edivar Queiroz acredita que a pressão do mercado e a mobilização de investidores e instituições serão essenciais para destravar a agenda.
- Regulação: A CSD aguarda a aprovação para se tornar oficialmente uma entidade operadora de mercado organizado.
- Engajamento do setor: A entrada de uma nova Bolsa depende também de apoio de corretoras, gestoras, bancos e investidores institucionais, que serão beneficiados com a concorrência.
O que muda para o investidor?
Se a nova Bolsa se concretizar, os principais beneficiados serão os investidores e as empresas que buscam acessar o mercado de capitais. As mudanças esperadas incluem:
- Mais opções de ativos
- Redução de taxas e tarifas
- Acesso facilitado a produtos internacionais
- Mercado mais dinâmico e competitivo
- Possibilidade de negociar em diferentes plataformas, com interoperabilidade
Uma nova era para o mercado financeiro brasileiro?
O surgimento de uma nova Bolsa não é apenas uma disputa por participação de mercado — é uma tentativa concreta de modernizar a infraestrutura do sistema financeiro nacional, democratizando o acesso a investimentos e abrindo espaço para mais inovação, liberdade e eficiência.