O governo dos Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira (14) a isenção das “tarifas recíprocas” de 10% sobre importações de diversos produtos agrícolas, como carne bovina, café, tomate, banana, castanhas, abacate, abacaxi e outras frutas tropicais.
A medida assinada pelo presidente Donald Trump tem efeito retroativo a 13 de novembro e ocorre em um contexto de pressão interna para redução no custo dos alimentos para o consumidor americano.
Apesar da mudança, o Brasil continua sujeito à tarifa adicional de 40%, conhecida como “tarifa punitiva”, aplicada por motivação política após o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Com isso, as exportações brasileiras seguem com alíquota total de 40%, enquanto outros países passam a ter isenção completa de tarifas.
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Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as mudanças atingem 11% das exportações brasileiras para os EUA, o equivalente a US$ 4,6 bilhões.
Com os 40% adicionais mantidos, a entidade avalia que a competitividade continua reduzida e que as negociações seguem urgentes.
Alívio das tarifas é parcial para exportadores brasileiros
Após consultas do governo brasileiro, a Casa Branca confirmou que o corte de 10% não elimina a sobretaxa aplicada ao Brasil. Produtos como café e carne bovina, importantes na pauta de exportação para os EUA, permanecem com custo mais elevado.
O documento publicado pela Casa Branca lista carne bovina de alta qualidade, café, castanhas-do-pará, caju, coco, laranja, tomate, banana e outras frutas tropicais entre os itens beneficiados pela isenção.
A justificativa é que esses produtos não são produzidos nos EUA em quantidade suficiente para atender à demanda doméstica.
No decreto, Trump escreveu: “Após considerar informações e recomendações, o status das negociações com vários parceiros comerciais, a demanda doméstica atual por determinados produtos e a capacidade doméstica atual de produzir certos bens, entre outros fatores, determinei que é necessário e apropriado modificar ainda mais o escopo dos produtos sujeitos às tarifas recíprocas.”
Trump diz não prever novas reduções nas tarifas comerciais
Mais tarde, o presidente afirmou que não espera novos cortes tarifários: “Não acho que será necessário. […] Tivemos apenas um pequeno retrocesso em alguns alimentos, como o café, que tiveram preços um pouco mais altos. Agora, eles vão ficar mais baixos em um período muito curto”.
O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, afirmou que a medida faz parte da estratégia comercial da Casa Branca: “Agora é o momento para liberar alguns desses itens que o presidente disse que iria liberar. Isso é um desdobramento natural exatamente do que o presidente sinalizou, e é isso que ele está fazendo hoje.”
Setor cafeeiro relata piora da competitividade após isenção de tarifas recíprocas
Com a eliminação das tarifas recíprocas para todos os países, concorrentes como Vietnã passam a exportar ao mercado americano sem tarifa. O café brasileiro, porém, segue com 40%.
Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), avalia que: “Piorou a situação para nós, pensando em competitividade. Todos os nossos concorrentes ficaram zerados, o que coloca a gente numa situação muito difícil.”
Matos defendeu a intensificação das negociações: “É preciso ser mais proativo. É ver o que é mais factível e iniciar negociação de isenção de produtos mais importantes, e o café está entre os primeiros.”
Dados da Secex mostram que 16% de todas as exportações brasileiras de café têm como destino os EUA. Entre agosto e o fim de outubro, as vendas do grão ao mercado americano caíram 51,5% ante igual período de 2024.
Histórico do tarifaço contra o Brasil
No chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril, Trump anunciou tarifa de 10% sobre exportações brasileiras aos EUA. Depois, aplicou a sobretaxa de 40%, vinculando a alíquota ao julgamento de Bolsonaro. A tarifa total chegou a 50%.
Posteriormente, a Casa Branca concedeu exceções que isentaram cerca de 700 produtos, mas itens relevantes, como café e carne, continuaram com tarifas altas.
Desde o aumento das tarifas, Brasil e EUA têm mantido reuniões. Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontraram brevemente na Assembleia Geral da ONU. Depois, houve reunião na Malásia no fim de outubro, abrindo caminho para novas tratativas.
Ontem, o chanceler Mauro Vieira se reuniu no Canadá com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para discutir redução das tarifas. Segundo Vieira, Rubio sinalizou possível acordo provisório até o fim de novembro ou o início de dezembro, mas sem mencionar detalhes.
No encontro mais recente, Rubio prometeu resposta formal entre sexta-feira passada (14) e a próxima semana. O Brasil solicitou uma pausa temporária nas tarifas enquanto negocia termos específicos por setor.
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Alckmin diz que Brasil seguirá pressionando
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou neste sábado (15) que o governo continuará buscando reduções.
“Há uma distorção que precisa ser corrigida. Todo mundo teve 10% a menos, só que, no caso do Brasil, tinha 50% e ficou com 40%, que é muito alto (no café). No caso do Vietnã reduziu 20%, era 20% e foi para zero.”, disse Alckmin, destacando a manutenção da disparidade.









