A Amazon (AMZN) se prepara para um ambiente de negócios mais difícil nos próximos meses, diante das novas tarifas de importação impostas pelo presidente Donald Trump. Segundo a companhia, o cenário de guerra comercial pode afetar os gastos dos consumidores e comprometer o desempenho de diversas unidades de negócio.
A empresa viu suas ações caírem 2,61% no after market, após divulgar a projeção de lucro operacional em US$ 15,3 bilhões para o próximo trimestre (abaixo da expectativa do mercado, de US$ 17,6 bilhões) apesar de os lucros terem superado a estimativa dos analistas.
No acumulado do ano, os papéis recuam cerca de 13%, com investidores reavaliando o impacto das políticas comerciais do governo Trump sobre os resultados da empresa.
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Segundo a companhia, os resultados podem ser “materialmente afetados por muitos fatores”, como “políticas tarifárias e comerciais”, flutuações cambiais e temores de recessão.
“Obviamente, nenhum de nós sabe exatamente onde as tarifas serão fixadas ou quando”, declarou o CEO Andy Jassy, após a divulgação dos resultados.
Reação da Amazon às tarifas de Trump
Nesta semana, se estabeleceu uma tensão entre a big tech de Jeff Bezos e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após a notícia de que a companhia avaliava mostrar aos consumidores o impacto das tarifas nos preços dos produtos. O plano seria testado no Amazon Haul, sua plataforma de descontos voltada à concorrência com Shein e Temu.
A Casa Branca classificou a proposta como “hostil e política”, e o presidente teria se irritado pessoalmente com a iniciativa. Após a reação negativa, a Amazon negou que o projeto estivesse aprovado.
Em coletiva de imprensa para marcar os 100 dias de governo, a secretária de imprensa Karoline Leavitt afirmou que o presidente considerou o plano como mais uma razão para “comprar produtos americanos”.
Após a repercussão, a Amazon negou que a iniciativa estivesse aprovada ou que fosse se aplicar à sua principal plataforma de e-commerce.
Projeção de lucro para o 2º semestre decepciona
No primeiro trimestre de 2025, a Amazon reportou lucro líquido de US$ 17,13 bilhões, uma alta de 64% em relação ao mesmo período de 2024. A receita foi de US$ 155,7 bilhões, superando as previsões dos analistas (US$ 155,2 bilhões).
Porém, para o trimestre encerrado em junho, a empresa recuou na projeção de lucro operacional entre US$ 13 bilhões e US$ 17,5 bilhões, abaixo da expectativa média de Wall Street (US$ 17,8 bilhões).
Para o período, a faixa de vendas estimada é de US$ 159 bilhões a US$ 164 bilhões, em linha com as projeções. Segundo a empresa, as tarifas e a instabilidade econômica são fatores que podem afetar diretamente o comportamento dos consumidores nos próximos meses.
Desaceleração nos serviços e alerta na publicidade
De acordo com dados divulgados pela empresa, já há sinais de desaceleração em áreas importantes do negócio:
- Receita com vendedores terceirizados cresceu 6% no trimestre, para US$ 36,5 bilhões, abaixo da expectativa dos analistas.
- Receita publicitária, uma das que mais cresciam na empresa, subiu 18%, para US$ 13,9 bilhões, em linha com as projeções.
Segundo a analista Sky Canaves, da Emarketer, a publicidade na Amazon está vulnerável a cortes de gastos por parte de vendedores pequenos e médios, justamente os mais afetados pelas tarifas sobre produtos importados da China.
A Amazon Web Services (AWS), braço de computação em nuvem da empresa, reportou US$ 29,3 bilhões em vendas, com crescimento de 17%. Apesar de estar dentro do esperado, foi o crescimento mais lento da unidade em um ano, o que contrastou com os resultados da Microsoft no mesmo setor.
Prime Day enfrenta resistência de vendedores
As novas tarifas de Trump têm afetado até mesmo a adesão de vendedores ao Prime Day, evento promocional de julho, que é uma das maiores datas de vendas da Amazon no ano, depois da Black Friday e Ciber Monday.
Vários comerciantes nos EUA anunciaram que não participarão da edição de 2025 ou reduzirão significativamente sua oferta de produtos. O objetivo é proteger margens de lucro, já pressionadas pelos custos com as tarifas.
Exemplos do impacto das tarifas no evento:
- Steve Green, que vende bicicletas e skates, decidiu não participar do Prime Day pela primeira vez desde 2020.
- Kim Vaccarella, da marca Bogg Bag, também ficou de fora do evento e já iniciou a transferência da produção da China para o Camboja e o Vietnã.
A alta de até 145% nas tarifas pode mais que dobrar o custo de alguns produtos importados da China, inviabilizando descontos promocionais.
Em 2024, o Prime Day movimentou US$ 14,2 bilhões, segundo a Adobe Analytics. A participação de vendedores terceirizados é essencial para o sucesso do evento — uma vez que eles representaram 62% das unidades vendidas no quarto trimestre de 2024.
Amazon tenta mitigar riscos
Para tentar suavizar os efeitos das tarifas, a empresa iniciou compras estratégicas de estoque e renegociações com fornecedores. O CEO Andy Jassy afirmou que espera um aumento dos preços por parte dos vendedores, o que poderá afetar o comportamento do consumidor.
A Amazon também está consultando grandes vendedores para avaliar o impacto das tarifas antes do Prime Day. Caso muitos desistam de participar, a empresa pode sofrer com queda na receita de publicidade e menor engajamento de assinantes do Amazon Prime, serviço que custa US$ 14,99 por mês ou US$ 139 por ano.
Relação entre Trump e Bezos volta aos holofotes
O atrito entre Donald Trump e Jeff Bezos, fundador da Amazon, tem histórico. Em 2019, a empresa entrou com uma ação contra o governo dos EUA alegando perseguição política.
Bezos, que também é dono do Washington Post, chegou a apoiar parte da agenda econômica de Trump, mas a relação entre os dois sempre foi marcada por desconfiança.
A recente tensão sobre as tarifas reacende a disputa entre interesse empresarial e posicionamento político, em um momento em que decisões do governo afetam diretamente o mercado e as perspectivas para empresas como a Amazon.