A gôndola de produtos importados no supermercado funciona como um termômetro da economia e do clima global. Itens como azeite, vinhos, certas frutas secas e queijos têm seus preços diretamente influenciados por crises que ocorrem a milhares de quilômetros de distância, tornando o orçamento do consumidor uma montanha-russa.
Nos últimos anos, vimos o preço do azeite disparar devido a secas históricas na Europa. Agora, em 2025, o cenário para este produto específico parece estar mudando, mas a instabilidade de outros itens, como os vinhos, e a eterna influência do dólar, nos mantêm em alerta. Entender essas dinâmicas é crucial para saber quando comprar e quando buscar alternativas.
Por que o azeite de oliva viveu uma explosão de preços recente?

O preço do azeite que pesou no bolso dos brasileiros em 2023 e 2024 foi um reflexo direto de uma grave crise climática no Mediterrâneo. Países como Espanha, Itália e Portugal, os maiores produtores mundiais e principais fornecedores para o Brasil, sofreram com secas extremas e ondas de calor recordes por safras seguidas.
Essa condição climática adversa dizimou as oliveiras, levando a uma quebra histórica na produção. Com muito menos azeite disponível no mercado global e a demanda se mantendo alta, os preços dispararam na origem. Como o Brasil importa mais de 99% do azeite que consome, sentimos o impacto de forma imediata e severa.
O preço do azeite vai finalmente baixar em 2025?
As notícias para 2025 são otimistas. As previsões indicam uma recuperação significativa da safra de azeitonas na Europa. Com condições climáticas mais favoráveis, espera-se que a produção volte a níveis mais próximos da normalidade, aumentando a oferta global do produto.
Essa recuperação na Europa deve trazer um alívio para o consumidor brasileiro. Analistas de mercado projetam uma queda de pelo menos 20% no preço do azeite nas prateleiras já no primeiro semestre de 2025. No entanto, o valor final ainda dependerá da cotação do dólar no momento da importação.
Se o azeite pode cair, por que os vinhos continuam tão caros?
A composição do preço do vinho no Brasil é mais complexa e menos dependente de um único fator climático. Embora a produção na Argentina e no Chile também possa sofrer com o clima, o principal motor do alto custo dos vinhos importados em nossas prateleiras é estrutural.
A carga tributária sobre a bebida no Brasil é uma das mais altas do mundo. Some a isso os custos de logística internacional (frete, seguro), as despesas com o processo de importação e a margem de lucro de importadores e varejistas. Todos esses fatores criam um “custo Brasil” que mantém o preço dos vinhos permanentemente elevado.
Quais outros produtos da nossa gôndola dependem do humor do mundo?
O azeite e os vinhos são os exemplos mais visíveis, mas não os únicos. Diversos outros itens da nossa alimentação são vulneráveis a crises externas, sejam elas climáticas, econômicas ou geopolíticas.
A dependência da importação nos deixa expostos a eventos que não controlamos, desde uma praga em uma plantação de nozes até a variação no preço do frete marítimo.
Outros importados sensíveis
- Pescados: O bacalhau, vindo principalmente da Noruega, e o salmão, do Chile, dependem da saúde dos oceanos, das cotas de pesca e da logística de transporte refrigerado.
- Frutas secas e oleaginosas: Nozes, amêndoas e damascos são cultivados em climas específicos. Más colheitas na Califórnia ou na Turquia impactam diretamente os preços aqui.
- Queijos especiais: Queijos europeus, como parmesão e grana padano, são afetados tanto pelo custo do leite na Europa quanto por acordos comerciais e tarifas de importação.
O dólar continua sendo o grande vilão dessa história?
Sim, o dólar é o fator multiplicador de todas as crises. Mesmo que o preço de um produto caia em sua moeda original (euro ou peso, por exemplo), é a taxa de câmbio no dia da transação que define o custo final em reais.
No caso do azeite, por exemplo, uma eventual queda de 20% no preço em euros pode ser parcialmente ou totalmente anulada se o dólar subir em relação ao real. Para o consumidor, a cotação da moeda americana é tão importante quanto a previsão da safra.
Como o consumidor pode navegar nesse mar de preços instáveis?
A informação é a melhor bússola. A primeira estratégia é aproveitar as janelas de oportunidade: se a previsão de queda no preço do azeite se confirmar, pode ser um bom momento para estocar algumas garrafas, se o orçamento permitir.
Para produtos cronicamente caros como os vinhos, a solução é ficar de olho em promoções e explorar o crescente mercado de bons rótulos nacionais, que, apesar de também terem seus custos, não sofrem com a mesma carga de importação. Ser um consumidor flexível e aberto a experimentar alternativas locais é a melhor defesa contra a inflação dos importados.