Dados recentes apontam que a inadimplência do produtor rural pessoa física no Brasil teve elevação no primeiro trimestre de 2025, alcançando 7,9%. Esse crescimento de 0,9 ponto percentual em comparação ao mesmo período do ano anterior reflete os desafios enfrentados pelo setor do agronegócio, sobretudo em relação aos custos de produção e fatores externos que impactam diretamente a capacidade de pagamento dos agricultores.
A análise da Serasa Experian, responsável pelo levantamento divulgado no início de abril, considera dívidas vencidas há mais de 180 dias, incluindo valores devidos a bancos e empresas ligadas ao agronegócio. A métrica utilizada pelo indicador oferece um panorama detalhado dos compromissos financeiros na principal base econômica do Brasil: o setor agropecuário.
Por que a inadimplência rural aumentou em 2025?

O cenário de inadimplência no campo é diretamente influenciado pelas condições do mercado e fatores como quebra de safra, oscilações de preços de insumos e dificuldades logísticas. Em 2024, problemas climáticos contribuíram para perdas significativas de produtividade, principalmente na região Sul do país. Apesar de uma colheita recorde de soja em 2025, outros custos operacionais continuaram pressionando os pequenos e médios produtores.
As dívidas acumuladas refletem não apenas questões climáticas, mas também efeito de altos financiamentos tomados em períodos de expectativas otimistas de produção. A necessidade de capital para investir em maquinário, insumos e tecnologia, em muitos casos, supera a capacidade de pagamento diante de adversidades inesperadas.
Quais perfis de produtores apresentam maior inadimplência?
O levantamento destaca que os grandes proprietários rurais são aqueles com maior índice de inadimplência, registrando 10,7% até março de 2025. Esse grupo costuma negociar valores mais elevados com instituições financeiras, o que aumenta sua exposição a oscilações no mercado agrícola e ao risco de inadimplência em períodos de instabilidade econômica ou queda de receita.
- Arrendatários: índice de 9,5%
- Médios proprietários: 7,8%
- Pequenos produtores: 7,2%
O comportamento do grande proprietário rural é identificado como mais propenso ao endividamento devido a operações de maior porte, enquanto os pequenos e médios apresentam índices mais próximos à média nacional.
Por que produtores do Sul apresentam menor inadimplência?
Os dados regionais apresentam destaque para os agricultores gaúchos. No Rio Grande do Sul, a inadimplência rural ficou em 4,8% no período analisado, uma das menores taxas do país. Diversos fatores explicam esse resultado, como a forte aderência ao seguro rural, renegociações de dívidas e linhas de crédito emergenciais destinadas a mitigar impactos de eventos extremos, como secas e enchentes, que atingiram o estado em 2024.
- Paraná: 5,7%
- Santa Catarina: 6%
No contraponto, estados do Norte e Nordeste apresentam maior proporção de produtores inadimplentes, com destaque para o Amapá, que atingiu 21,2%, apesar de sua pequena participação no agronegócio nacional. Já Mato Grosso, referência nacional na produção de grãos, apresenta índice intermediário, demonstrando que tamanho da produção nem sempre se traduz em menor inadimplência.
Como a inadimplência impacta o agronegócio brasileiro?
O aumento da inadimplência entre produtores rurais influencia diretamente o acesso a crédito, a competitividade do setor e a capacidade de investimento em inovação. Com mais dívidas em aberto, bancos e financeiras tornam-se mais rigorosos ao conceder financiamentos, elevando custos e limitando o acesso de pequenos e médios agricultores a recursos fundamentais para manter a operação.
Reduzir a inadimplência depende da combinação de políticas públicas, estratégias de gerenciamento de risco, como fortalecimento do seguro rural, e renegociação de dívidas. A busca por soluções flexíveis, adaptadas a cada realidade regional, é essencial para manter a sustentabilidade do segmento agrícola, que segue como motor da economia brasileira.
O monitoramento do índice de inadimplência rural continua fundamental para identificar tendências, avaliar o desempenho das safras e traçar estratégias voltadas à estabilidade financeira dos produtores. A capacidade de reação do setor, mesmo diante das adversidades naturais e econômicas, reforça a importância de iniciativas que garantam apoio e segurança ao campo em 2025 e nos próximos anos.