Mais da metade das empresas paulistas (64,5%) teve os negócios afetados pelos impactos climáticos extremos no último ano, segundo levantamento do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Entre os principais impactos climáticos citados estão enchentes, secas, perdas de mercadorias e falhas nas cadeias de suprimentos, mas parte dessas empresas não adota nenhuma ação devido à falta de recursos.
A pesquisa antecede o lançamento da Agenda Verde, documento com 12 propostas para promover a sustentabilidade no país, entregue ao governo federal, em um momento decisivo para o Brasil na agenda climática internacional, já que a 30ª Conferência das Partes (COP30) acontecerá em novembro, em Belém (PA).
Impactos climáticos afetam desempenho financeiro
Quase metade das empresas (44,5%) relataram prejuízos associados a eventos ambientais. Além dos riscos operacionais, esses impactos climáticos trazem riscos diretos ao desempenho financeiro das empresas.
Em 2024, São Paulo registrou a pior seca desde 1982, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), afetando 60% dos municípios com seca extrema entre maio e agosto.
Já em outubro, fortes chuvas deixaram parte da capital sem fornecimento de energia elétrica por dias, com perdas estimadas em R$ 2 bilhões. No início de 2025, novas tempestades voltaram a afetar comércios em centros urbanos.
- ⚡ A informação que os grandes investidores usam – no seu WhatsApp! Entre agora e receba análises, notícias e recomendações.
Sustentabilidade avança devagar em São Paulo
Segundo a pesquisa, apesar de 61,5% das empresas sentirem os impactos climáticos e reconhecerem a relevância da pauta, 58% não adotam nenhuma ação para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
Entre os obstáculos apontados estão a falta de recursos financeiros (40%) e ausência de conhecimento técnico (26%). Outros 15,5% adotam práticas sem metas claras e 15% possuem metas que não são divulgadas ao público.
De acordo com a FecomercioSP, há um descompasso entre a percepção dos riscos climáticos e a adoção de soluções sustentáveis no ambiente empresarial.
Práticas sustentáveis de baixo custo predominam
Entre as empresas que adotam ações sustentáveis, a maioria opta por medidas de baixo custo, como o uso de etanol na frota de veículos (79,8%) e a compostagem de resíduos orgânicos (69%). Embora positivas, essas ações demandam menos investimento e têm menor impacto estrutural do que soluções como geração de energia renovável.
Soluções estruturais, como energia renovável e veículos elétricos, ainda são pouco utilizadas devido ao alto investimento necessário.
Adesão à economia circular é limitada
No campo da economia circular — modelo que prioriza o reaproveitamento de recursos — a adesão também é limitada, refletindo uma tendência nacional.
Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS) apontam que apenas 1,82% dos resíduos recicláveis secos e orgânicos são efetivamente recuperados no Brasil. As medidas com maior adesão são:
- Triagem de recicláveis: (28,6%)
- Envio a ecopontos: (18,1%)
- Participação em logística reversa: (17,4%)
- Compostagem: (13,9%)
De acordo com Rafael Tello, vice-presidente de Sustentabilidade da Ambipar (AMBP3), a baixa taxa de reciclagem representa uma perda econômica e social significativa.
“Avançar na economia circular pode injetar R$ 11 bilhões por ano na economia e gerar 240 mil novos empregos até 2040”, afirma Tello.
- 💰 Seu dinheiro escapa e você nem percebe? Baixe grátis a planilha que coloca as finanças no seu controle!
Um estudo do Ministério do Meio Ambiente estima que esse número pode chegar a 7 milhões de empregos até 2030 com mais investimento em reciclagem e logística reversa. No entanto, a falta de políticas públicas eficazes é apontada como um entrave para o setor, dificultando o desenvolvimento de uma cadeia de reciclagem economicamente viável e escalável.
Lançamento da Agenda Verde com foco na COP30
Na última quinta-feira (10), a FecomercioSP lançou oficialmente a Agenda Verde, reunindo representantes do governo, do setor empresarial e da sociedade civil.
O documento foi entregue oficialmente à Secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e CEO da COP30, Ana Toni, ao Senador Laercio Oliveira (PP-SE) e ao Deputado Federal, Fernando Marangoni (União-SP).
A Agenda propõe 12 medidas prioritárias nas áreas de transição energética, economia circular, logística reversa e descarbonização da indústria.
Ana Toni ressaltou como pilares importantes da COP 30 que também valorizam a política nacional e vão de encontro às medidas prioritárias da Agenda Verde, a implementação dos acordos sobre resíduos dos fóruns anteriores, a agenda de ação e a agenda de mobilização, para obter todas as diretrizes nacionais e locais.
- 📩 Os bastidores do mercado direto no seu e-mail! Assine grátis e receba análises que fazem a diferença no seu bolso.
Economia circular pode gerar até R$ 320 bilhões por ano
Marangoni, que também preside a Frente Parlamentar de Gestão de Resíduos e Economia Circular, ressalta que a economia circular deixou de ser um discurso de ambientalista para tornar-se política de gestão de empregos, de inclusão, de inovação e de competitividade.
Um levantamento do Ipea revela que a inércia sobre ações sustenteis pode levar a um acúmulo de R$ 168,5 bilhões em custos com a má-gestão de resíduos até 2050. Por outro lado, a economia circular pode gerar até R$ 320 bilhões por ano em danos econômicos.
Além disso, no mesmo período seria possível criar meio milhão de empregos verdes, com destaque para as cooperativas, catadores, micro e pequenas empresas ambientais.
No setor de eletroeletrônicos, o deputado estima que é possível movimentar R$ 800 milhões ao ano e criar mais de 40 mil empregos formais, por meio da inclusão produtiva, de cadeias eficientes, regeneração ambiental e desenvolvimento territorial. No entanto, para isso é fundamental a articulação entre os três níveis de governo e o setor produtivo.
Atualmente, tramitam mais de 200 Projetos de Lei sobre sustentabilidade no Congresso Nacional, incluindo o PL 4701 (incentivo fiscal para insumos reciclados) e o PL 1874 (política nacional de economia circular).