A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que os próximos passos para determinar um novo corte dos juros dependerá do comportamento da inflação. Segundo ela, na última reunião da instituição, havia um clima de confiança, o que permitiu o primeiro corte desde 2019.
As declarações foram dadas durante o Fórum do BCE em Sintra, Portugal, nesta terça-feira (2). Lagarde participou do encontro ao lado de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed).
Os dirigentes foram questionados durante o painel sobre temas como a condução da política monetária de cada país e outras medidas para controlar a inflação, em busca de atingir a meta.
Política monetária restrita após cortes
Nas últimas reuniões em junho, o BCE e o Fed realizaram os primeiros cortes nos juros depois de um longo período de restrição. Apesar disso, os presidentes seguem com os pés no chão, buscando por indicações mais claras de que é seguro promover novas reduções.
Segundo Powell, a política monetária seguirá restrita nos próximos meses, e é como o Fed acredita ser o mais apropriado para o momento, devido ao mercado de trabalho aquecido.
Mais cedo, o Departamento de Trabalho divulgou os dados do JOLTs (relatório de abertura de vagas) de maio. Nele foi revelado uma criação de 8,14 milhões de empregos, acima das projeções de 7,91 milhões.
O presidente do Fed se recusou a dar qualquer orientação sobre o momento da primeira redução da taxa de juros, e afirmou que espera ver mais evidências antes de reduzir as taxas de juros.
“Como a economia dos EUA é forte e o mercado de trabalho é forte, temos a capacidade de levar o nosso tempo e fazer isso direito”, explica.
Inflação de serviços preocupa
Para a presidente do BCE, a manutenção da inflação de serviços em 4,1% é um ponto de alerta para a instituição. Os dados foram divulgados pela agência de estatísticas Eurostat nesta manhã.
Segundo ela, não há necessidade dos preços de serviços estarem em 2% [meta de inflação], devido aos bens estarem abaixo disso. No entanto, eles serão levados em consideração na hora de definir um novo corte nos juros na Europa.
Na visão de Powell, a inflação norte-americana ainda vai levar algum tempo até voltar para o centro da meta. “Nós estamos progredindo, mas não de um modo que a inflação alcance a meta de 2% ainda este ano, ou até mesmo no próximo. E se acontecer, será somente no final de 2025 ou em 2026”, afirma Powell.
Cortar juros cedo ou perder o timing
Powell afirmou que nas próximas reuniões, o Fed terá que balancear a sua decisão, com base nos dados coletados sobre a economia norte-americana.
“Nós temos o risco de cortar os juros cedo, e termos que voltar para uma política restritiva, mas também podemos perder o timing do corte, impossibilitando uma expansão econômica. Os riscos existem, porém, precisamos lidar com eles”.
O presidente do BC, Campos Neto, disse durante o painel que o Copom leva em conta decisões de outros BCs na hora de definir a taxa de juros. “O que o Fed faz importa para nós em alguma medida. O prêmio de risco em mercados emergentes aumentou com os juros altos nos EUA”, disse ele.
Ao ser questionado sobre a condução do BC e os conflitos políticos, Campos Neto afirmou que os membros da instituição precisar fugir de disputas politicas e fazer um trabalho técnico. “No último ano de eleições presidenciais [2022], nós aumentamos os juros para 13,75%, isso é um sinal de que somos independentes”.
Eleições presidenciais
Em um período de longa especulação entre os investidores, Lagarde e Powell afirmaram que não pretendem comentar sobre questões relacionadas as eleições presidenciais [na França e nos Estados Unidos]. O presidente do Fed foi categórico ao afirmar que não está focado em nada nas eleições.
Apesar de afirmar que não comenta sobre questões políticas de países membros, principalmente em períodos eleitorais, Lagarde afirmou que o BCE está observando de perto como os mercados reagirão às eleições na França.
“O BCE fará o que tem de ser feito, nós buscamos sempre pela estabilidade de preços e continuaremos fazendo o nosso trabalho”, garantiu Lagarde.